26 maio, 2007

Solidariedade

- Camaradinha, no dia em que houver uma greve e um guindaste da Lisnave se mexer, é uma grande vergonha para nós todos.
É um homem que parece mais velho do que é. Preocupações, trabalho duro ao ar livre, sonhos virados do avesso sempre causam mossa. Rugas fundas que se iluminam num sorriso maroto enquanto diz coisas numa língua esquisita qualquer.
- Sabes o que é que eu disse, camaradinha? Não sabes, pois não? Greve geral 30 de Maio, em romeno.
No estaleiro da Lisnave, na Mitrena, em Setúbal, trabalham quase duas mil pessoas a consertar barcos enormes, cheios de mazelas, que procuram ali os melhores profissionais do mundo. 2 mil pessoas, 400 empresas, 400 patrões, quase mil estrangeiros. Imigrantes russos, búlgaros, africanos, mais de 300 romenos.
Dia 30 de Maio há greve geral. Contra o trabalho precário e homens lado a lado, a consertar o mesmo navio, a ganhar salários diferentes. O Sindicato pintou faixas, colou cartazes, distribuiu documentos, arranjou tradutores, a dizer em português, romeno, búlgaro e russo: 30 de Maio, Greve Geral.
Não é desta que o meu camarada há-de passar vergonhas.

1 Comentários:

Blogger vox disse...

Há homens de toda a sorte
Com sonhos e desenganos
Homens do Sul e do Norte
E também há Africanos
Cada qual seus apetrechos
Todos de azul são fardados
Aprendem os novos eixos
Outra raça de soldados
Quando toca a campainha
Está na hora do navio
Comi caril de galinha
Dei o caldo de safio
Os barcos de todo o mundo
Chegam doentes, idosos
Depois de uma volta a fundo
Partem muito mais vistosos
Os nossos representantes
Dizem com muito calor
Se não somos almirantes
Temos o nosso valor
Eu que nunca vi o mar
Nunca lhe senti o frio
Ando agora a remendar
A barriga de um navio
(Lisnave - Rio Grande)

28 maio, 2007 10:56  

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial