02 agosto, 2007

Cuba (e os EUA) em Portugal

Acabei há pouco de ver a reportagem "Hasta cuando?" na RTP1, da autoria da nossa caloira Felgueira, a filha da outra da terra homónima.

Eu bem sei que há quem vá ficar melindrado com este post, mas é assim: 40 anos ou quase de ditadura (estou-me marimbando se é ditadura de esquerda ou de direita, a merda é a mesma, só muda o nome das moscas) fazem mal, fazem muito mal. Já tenho dito: não queria viver nos EUA, mas certamente também não queria viver em Cuba. De um lado há liberdade de expressão mas só há saúde e educação para quem pode pagar; do outro há educação e saúde gratuitas, mas comprar carne de vaca pode dar 15 anos de prisão e um delito de opinião pode valer... muitos mais.

Por enquanto, sinto-me bem é em Portugal: vai para 3o e tal anos que uns senhores barbudos acabaram com as licenças de porte de isqueiro e com a censura; melhor ou pior, vai havendo saúde e educação para todos, sem que seja preciso um seguro ou um empréstimo bancário pagável nos primeiros cinco anos depois de concluído o curso; posso estar no café a dizer mal do Sócrates que não vou preso por causa disso; posso ter o meu próprio negócio sem que isso faça de mim um traidor clandestino; posso sair do país quando me apetecer.

O que realmente me assusta é que Portugal está a ficar parecido com Cuba - e com os EUA também. Contraditório? Talvez não. Senão vejamos:
A. 1 milhão e 700 mil portugueses já têm um seguro de saúde. Quantos serão precisos para que o governo (este ou qualquer outro que lhe siga) venha dizer que já não é preciso termos um SNS?
B. Depois de aprovada a nova Lei da Imprensa (não conheço, mas as opiniões são unânimes em dizer que restringe a liberdade de imprensa) e de uns quantos casos de "delitos de opinião" (médicos, professores, sindicalistas, etc têm sido os visados) terem sido objecto do longo braço punitivo do governo, eis que hoje é conhecido que a Directora do Museu Nacional de Arte Antiga, anteriomente elegiada pelo seu trabalho, foi afastada do cargo, por discordar do modelo de gestão dos museus (parece-me uma mulher inteligente, deve ter proposto alguma alternativa e não se ter limitado a mandar bocas, por certo) e por não aceitar que o museu tenha de fechar as portas por falta de vigilantes.

Este governo anda com tiques. Não sei se são tiques neo-liberais se são tiques ditatoriais. Mas não gosto. Não pode Portugal continuar a ser... Portugal? Hasta cuando vamos continuar a imitar os outros - em particular naquilo que de pior têm?

3 Comentários:

Blogger vox disse...

Concordo com o que dizes dos EUA - embora eu tivesse sido mais incisiva - e com o que dizes de Cuba - apesar de ter vontade de acrescentar umas coisitas. Mas infelizmente aqui a "estrunfe resmungona" a "velha dos restelo de serviço" não pode concordar com o teu optimismo, ainda que parcial, em relação a Portugal...

03 agosto, 2007 12:18  
Anonymous Anónimo disse...

Hummm...
Isto levava-nos tão longe e eu ainda nem jantei...
Mas duas que eu não resisto:
1- na mesma reportagem super-hiper-mega parcial também havia a explicação sobre a carne de vaca: a produção bovina é muito pequena e decidiram que era melhor investir na produção de leite e comer os bifes em tempo de vacas mais gordas. Tem a sua lógica, independentemente de os 15 anos chocarem, óbvio.
2- eu sou optimista com Portugal, apesar do Sócrates e dos outros todos depois dos barbudos. Principalmente porque no meu país há quem lute por ele, pelos seus direitos e por uma vida melhor. Sem luta é que isto estaria mesmo entregue à bicharada... Mas como diz o Bruno: isto antes de melhorar a sério ainda há-de piorar um bocado...

08 agosto, 2007 23:18  
Blogger IPQ disse...

Bem... eu que já fui acusada de porca fascista por um punhado de amigos e outros tantos anónimos por achar que dispensar uma pessoa durante o perído experimental do seu contrato não é uma sacanice.
a ver se me faço entender melhor em relação a esta melindrosa questão...
Rui, tu tens sempre uma forma muito peculiar de expôr as coisas. Houve uma altura em que a achava demsaiado directa, bruta, por vezes muito a preto e branco. Mas neste caso, e concordando que possam e existam muitas nuances, a verdade é que, no essencial, tu tens razão.
Em relação aos Estados Unidos nem me vou pronunciar, já todos sabem o que penso.
Agora Cuba.... Cuba é outra loiça como diria o meu pai. Eu gostava muito de acreditar que as coisas pioram para melhorar e gostava ainda mais de acreditar que, apesar dos pesares, os cubanos vivem felizes dentro das suas muitas limitações porque todos têm acesse ao básico. Mas a verdade é que, por muito esforço que faça, não acredito. E a explicação que a Margarida dá em relação à carne de vaca não é suficiente para mim. Sorry Meg, mas não é. E qual é a explicação para os 26 anos de prisão por delitos de opinião? e qual é a desculpa para as execuções dos dois jovens que tentaram sair da ilha num barco? E qual é a desculpa para um cubano não poder entrar no bar de um restaurante de um qualquer hotel de Cuba? E qual é a explicação para não se poder ter um negócio? E qual é a explicação para um cubano não poder, pura e simplesmente, sair da sua ilha, ir para um outro país, sem ser considerado um dissidente?
Não vou caracterizar a reportagem da Sandra Felgueiras. Ela até pode ser muito parcial, esse não é o cerne da questão. Pelo menos para mim... o que achei triste, foi o olhar de muita daquela gente, triste e receoso. "Eu não lhe posso dizer tudo o que sinto". Isto para mim já é o bastante

16 agosto, 2007 10:49  

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