20 novembro, 2006

Pessoas más

Na quarta-feira precisei de vir a Lisboa e resolvi vir de expresso. Vocês sabem que eu sou semi-profissional dos transportes públicos e que passei pelo menos dez anos da minha vida a fazer quilómetros e quilómetros e quilómetros de expresso, combóio, autocarro e carreira. Desde que fui para Coimbra ando mais de carro e a verdade é que isso muda muito a perspectiva das coisas: deixei de me preocupar com reservas antecipadas, horários e ligações, para me preocupar com a localização de bombas de gasolina e sítios para estacionar sem pagar.
Para matar saudades, poupar dinheiro e dormir mais quatro horas resolvi apanhar o tal expresso de Coimbra para Lisboa.
Conclusão número um: meus amigos, estamos oficialmente velhos. Se tivessemos sido pais e mães adolescentes, os nossos filhos podiam estudar neste momento no ensino superior. Os moços que partilharam o expresso comigo são de outra geração, ouvem outras músicas, falam de outra maneira. Caso encerrado.
Conclusão número dois - revisão da matéria dada: há mesmo pessoas más. Claro que a maioria de nós faz, pensa e diz, ocasionalmente, coisas más e crueis. Ou não faz determinadas coisas - é a tal coisa de pecar por omissão. Mas não é disso que estou a falar - é de pessoas realmente más.
Na estação em Coimbra andava uma mulher a vender pensos às pessoas na bicha da bilheteira. Uma mulher mal agasalhada para o frio que lá já faz, talvez romena, talvez cigana. Estrangeira, escura e pobre, resumindo. Atrás de mim na bicha estava um homem normal, português, que olhou para ela, mesmo nos olhos, e disse-lhe com a maior frieza:
- Não há polícia que vos ponha na rua?
E repetiu, muitas vezes, porque ela não percebia nada de português e só dizia que não, a abanar a cabeça. E ele,
- Não há polícia que vos ponha na rua?
Eu nunca tinha visto nem aquele homem nem aquela mulher. Não conheço histórias, nem contextos, nem enquadramentos. Mas sei que aquele homem é uma pessoa má. Com um fundo mau. Quem olha assim nos olhos de outro ser humano e lhe diz que não tem o direito de viver no mesmo país que ele não pode ser boa pessoa. Por muito bons sentimentos que possa ter nas outras partes da vida dele, aquele homem é mau.
Fiquei mesmo triste.

1 Comentários:

Blogger IPQ disse...

Tens razão, há pessoas realmente más, capazes quase exclusivamente de pensar no mal que fazem aos outros. Eu, pela parte que me toca, estou um bocadinho farta das desculpas que sempre se arranjam para esses seres humanos de segunda. Que estão desempregados, que tiveram um filho que foi assaltado por um emigrante, que isto, que aquilo... são pessoas más. Nada mais a acrescentar

27 novembro, 2006 16:53  

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