13 agosto, 2007

... com excepção de todos os outros.

Acabei de ver mais uma daquelas notícias que nos fazem sempre questionar porque é que se continua a ver televisão: existem por aí uns senhores que acreditam que vão salvar o mundo ao atribuirem um computador a cada criança. A notícia também é acompanhada pela citação de algumas vozes críticas que defendem que primeiro é preciso resolver problemas mais graves como a fome e certas doenças, reiterando que o dinheiro investido nesta iniciativa poderia ser antes aplicado nessas prioridades.
Eu até sou grande defensora das novas tecnologias, daquelas que até acha que a Internet não deve sofrer qualquer espécie de censura, que o futuro da arte, em particular da música e do cinema, está está no digital e na proximidade entre criador e público - pela suspensão dos distribuidores como intermediários; profissionalmente estou sempre pronta a gritar: viva o cinema, morte à película - pela democratização da cultura!
Assim sendo pode parecer paradoxal que me insurja contra esta iniciativa. Quem dera a todos nós que toda a gente do mundo, não só as crianças, mas todos mesmo, pudessem disfrutar plenamente de tudo aquilo a que hoje temos acesso, em termos de novas tecnologias, no dito mundo ocidental, globalizado (ou mundializado, se preferirmos). A principal questão nesta notícia é que o projecto é apresentado como o salvador da democracia no mundo. Das duas uma, ou estes senhores acreditam piamente no que estão a fazer, e são uns ingénuos, ou se encontra aqui mais uma forma de manipulação camuflada "sob pele de cordeiro".
O que raio é a democracia de que eles falam? Os partidos políticos e a liberdade de imprensa? Ou será que queriam dizer antes democratização? - que neste ponto me parecem termos suficientemente diferentes. Cada portátil atribuido às crianças custa cerca de 150 euros, enquanto curar uma pessoa com lepra - sim, falamos de lepra no século XXI - custa 25. Qual é a democracia disto? E a fome e o trabalho infantil? O argumento de que estas crianças poderão, no futuro, conseguir melhores empregos, parece fraco consolo.
Eu, que não sou bombista, apenas uma radical moderada com dotes revolucionários humildemente limitados, espero que estas criancinhas descubram, com o que hoje estão a "aprender", uma forma de superar o pior de todos os sistemas. Aplaudirei a sua rebeldia!

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial