27 outubro, 2006

Um tema...

A Lina deixou no seu último post um tema que acho que podiamos desenvolver, porque sei que todos temos uma opinião, que todos vamos votar - a haver referendo - e, além de poder ser útil para quem nos queira ler, pelo menos para mim poderá ajudar a expiar a minha indignação: o tema da despenalização do aborto.
Todos sabem que sou/ fui católica (depois explico isto dos tempos verbais). O que se calhar nunca ficou claro foi que o meu afastamento da vida prática da Igreja, depois de muitos outras questões nada menores, se deve precisamente a esta questão. E a revolta volta quando se vê que está a começar tudo de novo!
Há oito anos, nos avisos do final da missa, o padre da minha paróquia disse do púlpito para baixo que quem votasse "sim" no referendo não era cristão. Nessa altura, muita gente se levantou e saíu, perante as reclamações dele de que a missa ainda não tinha acabado... Tive vontade de fazer o mesmo, mas não... fiquei, a roer-me, mas fiquei. Mal sabia eu, que na prática, já não estava ali...
Esclarecendo: sou contra o aborto, a pena de morte, assassinos e todos os atentados contra a vida... O aborto não poderá ser nunca utilizado como um método anticoncepcional.
Mas a despenalização do aborto, a meu ver, não coloca isso em questão:
- os abortos continuarão a acontecer, em Espanha ou em Portugal de forma ilegal;
- milhares de mulheres continuarão a ser vítimas de talhantes, num agravamento redundante de um problema incontornável de saúde pública;
- pior, ainda poderão ser presas por isso...;
- a Igreja não admite métodos anticoncepcionais, pelo que o argumento de que o embrião já é vida cai por terra - um espermatozóide não é um embrião...
- vivemos num Estado laico (?) - mesmo que a Igreja seja contra o aborto em si, não lhe compete decidir o que é ou não crime, quem deve ou não ir preso. E lembram-se do perdão? Onde é que fica aqui o dever cristão de perdoar?
Já começou de novo, o Cardeal Patrearca já veio dizer que se trata de uma "luta de civilizações". Eu não quero lutar com ninguém. E a Igreja de que um dia julguei fazer parte também não deveria querer. E a paz? Onde fica a paz? A luta não é o oposto da paz?
E isto é só o começo. Por enquanto, todas as sondagens dão vantagem ao sim, mas assim que a campanha começar realmente, a história vai repetir-se e estou convicta que corremos seriamente o risco de que volte a ficar tudo na mesma.
Para terminar, gostava de fazer um agradecimento com oito anos de atraso: obrigada Margarida!

1 Comentários:

Blogger Selbo disse...

Para mim, a questão do aborto é uma das principais razões pelas quais nunca poderia ser de direita. A hipocrisia faz-me muito confusão.

27 outubro, 2006 13:02  

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