12 dezembro, 2006

Beco sem saída II

O fim dos jornais na boca do mundo. Há dias, tive esta discussão com uma amiga brasileira, que é directora de um importante jornal do Atlântico Sul. Ela disse: «O fenómeno é mundial. O Globo, a Folha, o Estadão estão na mesma rota do NY Times, do Público ou do Le Monde. Em queda.» Estão com certeza, que os números não enganam.

Podemos falar da morte lenta da imprensa? Pela globalização da informação. À medida que o acesso e a velocidade da comunicação aumentam, a tendência é que cada indivíduo escolha o que quer saber e procure os conteúdos que o interessam. O advento da internet é o exacto oposto da crise da imprensa. Se o espaço do papel obriga à selecção de temas generalistas, a infinitude da rede permite a quase-plena individualização do conhecimento. Mas claro que também precisamos de receber algo de novo, além das nossas escolhas. É por isso que acho que os jornais nunca deixarão de fazer sentido.

Em Portugal, o fenómeno da decadência tem factores particulares. Por um lado, há uma minúncia na informação televisiva [os telejornais demoram mais de uma hora] que não cede grande margem de manobra aos jornais - de que pode falar a imprensa que a rádio e a tv não tenham já coberto?

Por outro lado, há um grave problema de concentração dos media. Existem quatro grandes grupos de comunicação social no país, que dominam 80 por cento do mercado impresso. A lógica de lucro na maior parte dos casos tem sido a de criar produtos populares, de informação directa, a baixos custos. Esta teoria tornou-se dominante e os grupos, sempre que viam a concorrência alcançar o mínino sucesso, imitavam a fórmula, sem jamais ousar criar o novo. Isto, obviamente, tem uma grande quota de responsabilidades na quebra da imprensa em Portugal.

Há 15 anos, a taxa de analfabetismo era praticamente o dobro do que é hoje. Em contraste, os índices de leitura e o consumo cultural eram muito mais baixos [num só fim de semana, 15 mil pessoas encheram a exposição do Amadeo de Souza Cardoso na Gulbenkian, o CCB anda sempre cheio, o teatro parece estar a sair lentamente da sua crise]. Mas foi há precisamente 15 anos que as bancas se encheram de bons produtos como o «Público», a «Grande Reportagem», o «Se7e», a revista «K», a «Visão». Depois apareceram os tablóides e a pink-press [o que, per si, nao tem mal nenhum] e os grupos perceberam que lucro fácil era fechar a «GR», a «K», o «Se7e», apimbalhar o «Público» e a «Visão», eliminar os produtos de melhor qualidade, despedir os grandes repórteres e os velhos jornalistas, substituindo-os por dois ou três estagiários – que como toda a gente sabe ganham menos, refilam menos e produzem a grande velocidade.

E, subitamente, começou a notar-se de forma acentuada a morte da imprensa em Portugal.

Se estamos num beco sem saída? Não, não acredito. Acho que os diários generalistas estão condenados. Mas os tablóides e a imprensa de qualidade [que por cá nem sequer existe] terão sempre um espaço nas bancas. Cada vez mais pessoas querem ler grandes investigações, boas reportagens, artigos de fundo e cronistas sérios [O El País e a Time vendem mais em Portugal do que a Focus]. É preciso investir para ter o retorno. Se isso não acontecer, então sim, teremos os tablóides e mais nada.

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