13 dezembro, 2006

Sobre jornais, Internet e outras coisas que tais

Agora meto eu a minha colherada...

1. Sobre a duração dos telejornais e sua suposta minúcia informativa: aqui estou com a Lina. O prolongamento dos ditos foi uma consequência das lutas pelas audiências e hoje assiste-se ao movimento contrário, liderado pela RTP (alguma coisa boa havia de fazer o "serviço público" - mas essa é outra conversa). Os maiorzinhos telejornais da SIC e TVI não têm minúcia nenhuma, enchem chouriços com "não-notícias" do tipo "o cão que faz patinagem no gelo" ou outros disparates para aliviar as consciências dos espectadores, presenteados durante uma hora com mortes e outras desgraças sucessivas (há muito tempo alguém de quem não me recordo o nome apontava a necessidade de um telejornal das "boas notícias").

Este alinhamento - mortes para começar e "piadas" pseudo-informativas para acabar - pode ser visto sobre outras luz, se pensarmos isto em termos de estudos teatrais (sim, vou puxar a brasa à minha sardinha): é preciso um começo forte para agarrar o espectador e aquilo que mais fica na memória deste é o final do espectáculo, logo dá-se-lhe uma coisinha engraçada para ele se ir embora bem disposto.

Aqui, há espaço para os jornais: diz a teoria destas coisas que permitem um tratamento mais distanciado, reflectido e profundo da matéria noticiosa. É claro que nos jornais há muito "diz que disse" e "fontes anónimas" (= fui eu que inventei mas não posso dizer). Mas vamos acreditar que, por vezes, a teoria até tem razão.


2. Tanto há espaço para algo mais profundo que, como mais uma vez a Lina apontou, reapareceram as "Grandes Reportagens" - não tão grandes como se calhar gostaríamos, mas do mal o menos.

Na imprensa, há um movimento que se desenha há já algum tempo que talvez possamos identificar como análogo a esta tendência para a reportagem, que é a imprensa especializada, onde obviamente este ou aquele assunto são tratados com maior atenção e profundidade.

É claro que nem tudo são rosas, e a "pink press" também chegou, de certa maneira, à imprensa especializada. Quem já pegou na "Stuff" ou na "T3" sabe do que falo: aquilo é mais publicidade encapotada do que outra coisa. E é claro que a aposta na imprensa especializada é, em muitos casos, uma exploração económica de um nicho de mercado - mas não estávamos nós à procura de uma forma de fugir à crise (também económica) da imprensa?


3. Este movimento para a especialização acontece também na TV, e a TV por cabo, com as suas dezenas de canais, é sinal disto mesmo. Cada vez mais queremos escolher o que queremos ver (ou pelo menos assim dizem os "mediólogos") e o "grande público" que o Dominque Wolton elogiava desapareceu.

Mas... não serão essas dezenas de canais, afinal, mais do mesmo? Como na imprensa, os projectos copiam-se: National Geographic, Odisseia e Discovery; Panda e Disney Channel; AXN e Fox; Holywood e canais Lusomundo; MTV, MCM e outros... a lista continua. O que é mesmo único no panorama televisivo por cabo português - a SIC Comédia - vai acabar, porque, diz a TV Cabo, tem conteúdos repetidos face a outros canais. Ai sim? Onde passa o Seinfeld? E porque razão o Arte passou para canal codificado, disponível só a quem desembolsa mais uns 10€? Também era repetido, querem ver?!

Ou seja, em TV, a procissão da especialização ainda vai no adro. O Clix TV aponta no bom caminho: um gajo paga e escolhe (pelo menos alguns) os canais que quer ver. Problema: a tecnologia de Vídeo sobre IP está na infância a a instalação em casa está no ponto em que estava a TV Cabo no início, ou seja, se quiserem ter mais que uma TV em casa, vão ter de gramar com umas centenas de metros de cabos pela casa fora. Mas não tarda nada chegam os televisores com sintonizador digital (sim, a TV hoje ainda é analógica, pasme-se!) e aí a coisa vai doer um bocadinho mais à TV Cabo.

Contudo, há uma coisa que eu "não engulo", desde a década de 90 quando comecei a ler na Wired sobre esta coisa da TV digital, do video-on-demand, dos alugueres de filmes na powerbox, do fazer a programação à medida sentado no sofá: a televisão convida à passividade, para interacção já me chega o zapping! Quando vejo TV, eu QUERO que haja um programador que alinhe os programas (e já agora, se não for pedir muito, que cumpra os horários e que não mude os programas de um dia para o outro, o que além de desagradável é estúpido, porque não ajuda nada à fidelização do espectador). Interactividade é noutro sítio. Adivinham onde?


4. Há um espectro que assola o mundo: a Internet.

O "digital" subsume tudo e tudo circula na rede. E o acesso à Internet faz-se ao computador, no escritório e não no sofá da sala (por muito que o Bill Gates nos queira vender computadores e sistemas operativos para colocar ao lado da TV), e com o qual estamos habituados a interagir, desde o jogo de cartas à escrita de uma carta.

De facto, é na Internet que se joga essa história de só procurarmos e consumirmos a informação que a nós e só a nós nos interessa. Surgem uma série de questões que importa reter:

a. Até ao momento, a Internet funciona, basicamente, como depósito de informação criada para outros media: notícias de jornais, vídeos (o que é o You Tube senão um depósito - ou uma lixeira, diram alguns), fotos, textos. Está por inventar uma linguagem especificamente para a Internet, qualquer coisa que não possa ser lida em papel, vista na TV, observada no cinema, folheada num álbum fotográfico. À parte algumas experiências em hiper-literatura ou em arte digital, não há nada de novo na Internet.

b. Outra coisa importante acerca da Net: ok, podemos pesquisar informação sobre tudo e mais alguma coisa, mas será que a informação que encontramos é fidedigna? Importa saber, ao navegar, donde vem a informação. A marca autoral ganha nova importância no seio do anonimato digital. É por isso que os "antigos" jornais, agora convertidos ao digital, são algumas das principais fontes informativas também na Net, geralmente mais do que os jornais que existem unicamente em formato digital.

c. Se calhar até há algo novo na Internet, e aqui há uma pista para esses "antigos" jornais: não me interessa nada assinar, por exemplo, o Público online e ter acesso ao jornal via PDF. Para isso vou à banca, compro o jornal e ainda levo um DVD ou coisa que o valha. O que seria realmente um serviço de valor acrescentado, e isso sim um modelo de negócio viável para os jornais na era da Internet, era ter acesso a uma base de dados com todos os artigos publicados no jornal, convenientemente catalogados segundo palavras-chave (sim, porque ter a coisa simplesmente organizada por data é igual ao litro) e com referências cruzadas.

d. Para acabar, que isto já vai grande, uma dica final para conciliar a notícia-que-vem-ter-comigo com a notícia-que-eu-procuro: se ainda não têm uma, abram uma conta no Google. Depois personalizem a vossa homepage: acrescentem vários módulos informativos, das mais variadas fontes - Público, TSF, Times, Wired, o próprio Google News... a lista é enorme. Assim vão sempre ser surpreendidos com este ou aquele título inesperado. Juntem o agregador de notícias (feeds RSS) à homepage e coloquem lá os RSS da vossa preferência, e já terão também, direitinhas ao desktop, aquelas coisas que só a vocês interessam. Finalmente, façam lá a pesquisinha da praxe e entretenham-se a vasculhar os 5,000,000 resultados encontrados.

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