Quando a Lina morava no carrer Madrid eu ia inevitavelmente visitá-la todos os Verões, como aliás muitos de nós, para matar saudades dela e de uma cidade onde ninguém se importaria de ter nascido. Gostava daquela casa, com uma janela que dava para um pátio interior e gostava dos pratos em formato de flores onde comíamos torradas. A Lina ia trabalhar e eu ficava a passear pela cidade, à noite jantávamos e íamos muitas vezes sair. E eu também tenho saudades disso.
Quando a Lina morava ao pé da Diagonal havia um supermercado perto de casa dela onde eu comprava a nossa janta e, muitas vezes, o meu pequeno-almoço. Gostava daquela casa, do conceito open-space, de arrumarmos o cubículo em gargalhadas e sairmos já tarde para os copos. Das conversas pela noite dentro, da Lena me deixar mapas e encontrar-me com a Meg uns dias. E eu também tenho saudades disso.
Quando a Lina morava em Barcelona eu também queria viver lá, porque adorava a cidade e não tinha que lhe aturar as rotinas. Íamos ao Parque Guel, ao Raval, a umas festas na Gracia em casa de uns catalães ultra-modernos e antipáticos [lembras-te?]. As amigas tugas da Lina - ok, ok, uma amiga da Lina - engraçou comigo e desenhou-se logo ali um romance, dois portugueses na terra dos outros. Depois eu embarcava para Taizé ou para o centro da Europa com cheiro a Barcelona na roupa, que é o mesmo que dizer de peito cheio, alma plena.
Há dias um amigo desafiou-me para ir a Barcelona, ver o Benfica jogar no campo do Espanyol. Primeiro disse que sim, depois que não, depois que talvez e a decisão perdeu-se nas brumas da incerteza. Mais tarde percebi que, por mais que amasse aquela cidade [é um facto, adoro Barcelona], tenho receio de perder a minha ideia mítica dela. Que é a beber una caña con mi amiga Lina, en un bar que hace esquina cerca del Raval, escribiendo postales a nuestros amigos e reindo alto, muy alto, para que nos escuchen hasta Barceloneta.
Bona nit!
