29 março, 2007

Pequena dúvida existencial de quem valoriza o dinheiro dos contribuintes

Desde que me lembro de ser gente a RTP tem dois canais: a RTP1 e a RTP2. Há poucos anos um par de iluminados achou que a RTP2 deveria mudar de nome. Um rebranding, que não sei quanto terá custado aos bolsos dos contribuintes, transformou a RTP2 em a 2.
Ninguém deu por nada, até porque todos continuámos, nas nossas conversas, a referir o dito canal como RTP2.
Há umas semanas, no entanto, senti-me violentamente ofendida. Como diz o ditado, "rei morto, rei posto", e o novo rei da 2 achou que deveria deixar a sua marca na estação. E vai daí contratou a mesma empresa de publicidade para fazer um novo rebranding e imagem do canal. E, espantem-se, gastou 150 mil euros dos contribuintes portugueses para passar o nome para.... verdade, RTP2.
E assim se gastaram 30 mil contos.

19 março, 2007

O aniversário do Sérgio

Roa-se inveja quem não pôde ir ao almoço de aniversário do Sérgio. Há muito tempo que não me divertia tanto, mas há que dizê-lo com frontalidade, tudo se conjugou para que fosse perfeito:

1.º O Sérgio, anfitrião dos anfitriões;
2.º A restante companhia;
3.º O tempo espectacular;
4.º A comida (pelo-me por nachos e guacamole);
5.º E, claro, a bebida. I love Margaritas!

Parabéns, SLB

Baba

Aviso já que este post é muito piegas!
Este fim-de-semana, eu e o meu companheiro saímos para aí à maluca a procurar um sítio novo para viver, para mudar de vida, para respirar melhor. A estratégia não é brilhante mas é fruto do desespero. E é claro que tínhamos se ir para Sul, sempre para Sul, mas não demasiado. Alentejo!
As nossas viagens desde sempre foram marcadas de muitos momentos a que chamo mágicos: pequenas coincidências que nos fazem descobrir a alegria de estar vivos e a magia de alguns sítios e gentes: umas vezes são coisas como a festa da Arrifana, uma estrela do mar numa poça de rocha, uma lontra a fugir pelo campo (sabiam que há lontinhas em Portugal?), um cordeiro ainda com o cordão umbilical... Agora que isto está a ficar demasiado bucólico quero contar uma destas pequenas histórias que conteceu no Sábado.
Paramos para almoçar no Cercal, que as costas já doiam de andar de carro, a fome de migas apertava e se demorássemos mais meia hora já não arranjávamos morfes em lado nenhum. Na rotunda podiamos escolher entre vários tascos mas, "pimba", foi aquele. A distância entre a cadeira e a mesa era curta pelo que, ao sentar-me, tive de "entrar de ladecos". Ao fazê-lo fiquei virada para a porta do restaurante e num papel vi um nome... No meio de todas as outras letras e papeis foi o nome que eu vi! Margarida...
O teu nome estava escrito na porta do restaurante onde fui parar por acaso, numa viagem de acaso numa vida feita de acasos.
Fiquei a saber depois que se tratava de um almoço de comemoração do aniversário do Partido em que ias estar. Tentámos tudo para ir, que estas coincidências mágicas sempre nos têm trazido bons frutos: perguntámos no restaurante onde nos disseram que tinhamos de nos inscrever na junta que, claro, ao Sábado estava fechada. Depois procuramos o centro de trabalho. Pareciamos tolinhos, no meio do Cercal a fazer todas as travessas à procura... de uma rubra bandeira, (devia-se oferecer uma bandadeira nova aquela malta, que a que lá está já só é um farrapo). Achámos! janela aberta, porta fechada. Tínhamos vergonha, afinal queriamos ser penetras num almoço que não era nosso, mas a vontade foi maior, batemos. Nada, silêncio, ninguém. Ainda perguntámos na farmácia que também tinha o teu nome à porta, mas ninguém sabia do tal almoço. Desistimos...
Desistimos do almoço mas fiquei a babar de orgulho por ti! O teu nome está em todo o lado... e não digo isto pelo outros, tipo "toda a gente conhece a minha amiga" ou "eu tenho uma amiga toda importante", nada disso. É claro que isso é bom, mas o orgulho é por mim, porque o teu nome estava onde eu fui, porque me cruzei com ele e isso foi importante para mim, ofereceu-me um sorriso interior de confiança, de esperança.
Este fim-de-semana, não achámos maneira de mudar de vida, não nos deram emprego no Alentejo nem vimos nenhum terreno barato. Mas estiveste a procurar connosco, de mão dada. Mesmo que não estivéssemos à procura da mesma coisa, eu sabia que estavas ali, perto. Eu sei que parece tolo... mas eu avisei que era piegas!

Dúvidas de Mestra

Ontem, depois da viagem de fim-de-semana muito fixe mas fatigante, cheguei a casa e esbodeguei-me no sofá a ver televisão. Claro que todos os zappings forma parar a essa "delícia" de programa...
Comecei por ficar um bocado irritada: mas porque é que não são antes gajas inteligentes com tipos com a mania do ginásio ou mesmo metrossexuais? Que opção maxista e conservadora! Um formato realmente "à frente" era quebrar com o estereótipo de que eles é que têm o q.i. alto, mesmo que sejam barrigudos e que elas têm de ser belas mas também não podem ser burras: resumindo - as mulheres têm de ser supermulheres que cuidam da casa, dos filhos, dos maridos dos pais e dos sogros, trabalham fora e ainda têm de ler e ir ao ginásio.
Mas essa foi só a primeira reacção porque quando se começaram a fazer as perguntas das fotos, não sei se do sono que já tinha ou dos nervos provocados pela preplexidade causada, escangalhei-me a rir até me doerem a barriga e as bochechas. Pesei que elas têm se ser pagas para fazer aquilo! É impossivel ser verdade!
Mas o pior é que além de ser real é... normal, comum e até de certo modo aceite: coitadinhas que elas não têm culpa de não saber, não precisam de saber aquelas coisas na vidinha que têm. E depois a Margarida chama-me pessimista quando eu digo que quero emigrar e que tenho vergonha do meu país (não, não fiquei "picada" com isso, mas era só para te dar mais um exemplo).
Como a Lina, também acredito na necessidade de equilíbrio entre o corpo e a mente, até porque acredito também - mas isto também já é filosofia barata - que as duas coisas não são assim tão separadas, como se de duas metades se tratasse. Só que também não creio que o equilíbrio fisico se encontre nem no ginásio a som se uma música «stum, stum...» a palminhar quilómetros numa passadeira virada para uma parede - e isto até é o menos mau -, nem entre vernizes e batons.
Por outro lado - e eu confesso que não tenho seguido o programa - mas aqueles tipos dão mesmo "inteligentes" ou "cultos"? Quem avaliou? Quais são os critérios? É que realmente não me parece muito esperto prestarem-se àquelas figurinhas...
Anedótico ou não, não deixo de achar que o programa - a ser verdadeiro - possa ser, até certo ponto pedagógico. Porque podemos perceber melhor o país em que vivemos mas também pelo mérito do apresentador: uma verdadeira revelação. Bruno e Meg, já pensaram em recrutar o tipo? Ele foi piadas anti-Bush, anti -Le Penn, anti Freitas-vira-casacas. Eram um bom nome para somar ao Malato! Uma revelação, pelo menos para mim que não dava nada por ele, ainda que continue a ser tonto, às vezes mesmo um bocado triste; mas é o papel dele - o de ser o palhaço de serviço.

17 março, 2007

Para quem acredita em teorias da conspiração

Aqui está a prova de como a nova direcção do DN está a obrigar os jornalistas a reescreverem a História. Que aznar!

Dúvidas de Bela

Como já devem saber há um novo reality show na TVI. Chama-se "A Bela e o Mestre" e o objectivo é juntar brasas com pouca cultura com rapazes com poucas aptidões físicas. É, na prática, um concurso em que se perpetua o estereótipo de pessoa bonita=pouca inteligência ou vice-versa. E este é um assunto que me interressa:

- Ao longo da última semana, não parei de ler textos ao facto de este programa ser mau para as mulheres, pois fomenta essa ideia feita de que as miúdas giras não podem ser espertas. Isto não está errado, é óbvio, mas por que razão não podemos falar do facto de terem posto homens mal preparados fisicamente a rebolarem de olhos vendados, provando-se assim que são uns desajeitados? Também não me pareceu que fosse dignificante.

- Só vejo uma explicação para não se levantaram vozes críticas contra rapazes de 20 anos que não sabem dar cambalhotas (literalmente): achamos que cuidar do esqueleto não é importante. Ora, eu discordo disto. Saber quem é o Fidel Castro não é razão para não saber dar uma cambalhotas. No entanto, estamos dispostos a aceitar o 3 a Educação Física, desde que venha um 5 a Geografia. Claro que isto é um pouco como ser beato. Anula-se o corpo para se elevar a alma. Não resulta: só serve para criar tarados.

- Além disso, estas raparigas têm cultura geral. À maneira delas. Podem não saber a capital do Japão, mas sabem que a disco do momento fica na margem sul e chama-se HK, short name para Hacienda Klub (Cruz de Pau). E eu não sabia. Liguei ao meu irmão a perguntar por um sítio qualquer terminado em K, da noite da Margem Sul, e ele é que disse com a maior naturalidade que era o HK Como eu fiquei muito espantada, a conversa terminou com ele a dizer: "Mas, ó Lina, quantos anos é que tens?". Ufff... Fiquei mesmo mal neste retrato.

13 março, 2007

Beijinhos

É só para dizer que gosto muito de vocês.

09 março, 2007

No 8 de Março

Durante muito tempo, as minhas agendas diziam sempre no 8 de Março: Dia da Mulher. Anos Avô. Anos SLB. Este é o primeiro ano em que não escrevi assim, porque o meu avô morreu em Junho e eu achei que não devia pôr.
Hoje fiz o que nos últimos anos tenho feito neste dia: falo em sessões sobre o dia da mulher, o que conquistámos e o que ainda nos falta até à igualdade de verdade. Mandei mensagem ao nosso SLB, a namorar em Paris e a choramingar no Parque dos Principes. Este foi o primeiro ano em que o meu avô não esteve.
O meu avô chamava-se António e morreu com 86 anos. Era um homem bom, que teve uma vida longa, digna e bonita. Morreu de mão dada com a minha mãe. Despediu-se de mim no dia do casamento da Inês, pelo telefone, ele que não gostava de falar ao telefone, e eu pude dizer gosto muito de ti, avô. Que eu nunca tinha dito. E chorei, mas só um bocadinho, de saudades, porque morrer assim é justo e normal. É a vida. Faz parte. E ele disse, com a voz fraquinha: que sejas sempre assim, feliz. E eu tenho sido, claro.
O meu avô trabalhou a vida inteira, desde os 8, e quando chegou aos 65 tinha uma reforma tão pequena que trabalhou mais 7. A minha mãe diz que nunca o viu tão feliz como nas primeiras eleições, em 1975. E o dia em que o vi mais chateado foi nas presidenciais, porque já não podia ir votar contra o Cavaco.
O meu avô sonhava que eu fosse jornalista, daquelas de ir às guerras e entalar os políticos, mas habituou-se à minha opção e guardava recortes para me perguntar coisas do Partido, às vezes semanas. Vocês fizeram isto mal, vocês haviam de pegar nisto. Vocês fazem muita falta.
O meu avô esteve internado quase 7 meses e nunca desanimou. Contou anedotas, disse piadas, fez amizade com o fisioterapeuta, viu o telejornal religiosamente, manteve-se fiel à decisão de só ler o Record quando o Sporting ganhava - para o fim era o meu pai que lia alto. O meu avô conheceu o Miguel e gostou dele. O meu avô só ficou triste, mesmo triste, até chorou, quando eu fiz a escritura da casa: porque sempre tinha imaginado ajudar-me a comprar uma coisinha melhor e agora não podia. E tenho pena que não tivesse podido vir cá ver, para ficar descansado que a neta está bem instalada.
O meu avô ensinou-me sempre a alegria. Quando me ensinava anedotas impróprias para crianças para eu contar aos amigos dele e envergonhar a minha mãe. Quando me ensinava as coisas da escola. Quando era teimoso que nem um burro. Quando dizia piadas desconcertantes nos momentos mais tensos, e nós tinhamos que rir todos. Quando entregou o IRS pela internet, no ano passado. Quando rebentava de orgulho quando alguém dizia bem de mim e do meu irmão. Mesmo quando esteve no hospital, cada vez mais fraco, o meu avô não me ensinou mais nada que não fosse alegria, alegria de viver, alegria de ter esperança, alegria de ter amigos, alegria de ter pessoas de quem se gosta.
O meu avô era uma pessoa maravilhosa e eu tive mesmo sorte.

08 março, 2007

Ao meu Partido

Deste-me a fraternidade para com o que não conheço.
Acrescentaste à minha a força de todos os que vivem.
Deste-me outra vez a pátria como se nascesse de novo.
Deste-me a liberdade que o solitário não tem.
Ensinaste-me a acender a bondade, como um fogo.
Deste-me a rectidão de que a árvore necessita.
Ensinaste-me a ver a unidade e a diversidade dos homens.
Mostraste-me como a dor de um indivíduo morre com a vitória de todos.
Ensinaste-me a dormir nas camas duras dos meus irmãos.
Fizeste-me edificar sobre a realidade como uma rocha.
Tornaste-me adversário do malvado e muro contra o frenético.
Fizeste-me ver a claridade do mundo e a possibilidade da alegria.
Tornaste-me indestrutível porque, graças a ti, não termino em mim mesmo.

O PCP foi fundado a 6 de Março de 1921 por um grupo de miúdos trabalhadores de Lisboa que acreditavam que tinha de haver outra forma de organizar a sociedade que não fosse com base na exploração. É um sonho milenar, o mais lindo sonho de todos. O poema é do Pablo Neruda, mas tenho pena que não seja meu.

Agora Sim!

Foi esta a palavra de ordem. Corremos o país de Norte a Sul. Houve comícios com duas mil pessoas e sessões de esclarecimento com dez ou quinze.
A campanha não foi de doze dias como diz a lei - a campanha foi de muitos anos. Muitos.
A despenalização do aborto acaba de ser aprovada na Assembleia da República.
A Odete discursou esta tarde, e acabou a citar Pablo Neruda:

Elas brigam por aquilo que acreditam
Elas levantam-se para a injustiça
Elas não levam não como resposta
Quando acreditam que existe melhor solução

Vale sempre a pena lutar.

Meninos rabinos, mas muito asseados... A cara e os dentes lavados

E pronto, a televisão fez 50 anos. E a RTP fez uma festa tão linda que só me apetecia chorar. Fiquei com um nó na garganta quando ouvi as canções de ir para a cama, o Tom Sawyer, a abelha Maia, a Heidi e os Moscãoteiros ali a serem escolhidas como coisas importantes. Não faltou nada: o Artur Agostinho, os programas do Fialho Gouveia, os cabelos das locutoras (essas boazonas!), os concursos do Carlos Cruz, as piadas do Herman... Uma coisa é partilhar essas coisas convosco que são da minha idade, outra é fazê-lo com Portugal inteiro. E enfim, essa é a magia da caixinha, aposto que a minha mãe também adorou.

05 março, 2007

Friday night report

Segunda tentativa [apagaram-me o post sem querer assim que terminei a última frase, fuck]

Quem não viu, vá ver. A peça «Renaissance», do Utopia Teatro, é realmente muito boa. Ainda há pouco tempo fui ao São Luiz ver o «Moby Dick» - que tem um elenco famoso e um orçamento avantajado - e não chega aos pés do trabalho de um teatro amador [?] em Sintra. Texto brilhante, a roçar extremos de densidade e gargalhada, a noiva do nosso Choco está muito bem e o dito aparece em formato video, cara ampliada, a fazer as vezes de director de uma companhia de teatro. Liguei ao meu irmão e convidei-o para vir, ele perguntou «é aquela peça das nifomaníacas lésbicas, não é?», mas está muito para além desta perspectiva hormonal de Primavera arrivista. É francamente bom, parabéns.

Fui de carro com a Meg. Óptima oportunidade para pôr a conversa em dia e mostrar-lhe um cheirinho da Sintra xunga - jantámos na Xitaca, pizza de cogumelos com molhos, bomba calórica a preço de amigo. Depois a peça e no fim ficámos cá fora a conversar. Até que a nossa Meg repete um gesto tão seu e saca da mala um abaixo-assinado para a malta. Contra a construção do Museu salazar em Santa Comba Dão. Não assino. Acho que a personagem é incontornável na nossa história e francamente gostava de ver em museu a arte do Estado Novo, o urbanismo, o papel do país na II Guerra Mundial, tanto quanto saber mais sobre a Pide, a Censura, a Guerra Colonial. Não me parece bem criar um hiato na história, há apenas que analisá-la pelo que foi - o que até é a melhor maneira de preservar a memória terrível e impedir a sua repetição. Não assinei, portanto.

Sábado à noite, telefonema da Meg:
«Estás a ver o telejornal?»
«Não.»
«Mas devias. Estão a mostrar uma manifestação contra a construção do Museu Salazar e outra a favor, com tipos a fazerem saudações fascistas e tal.»

É muito mau. Se de facto o Museu serve para legitimar o papel do ditador, rubrico o abaixo-assinado. Mas continuo a achar que devia haver um Museu do Estado Novo, para nunca mais ninguém esquecer. A história não se apaga.