30 agosto, 2007

A Selecção

Não é que a minha opinião conte ou que isto vá mudar o mundo, mas não acho graça a esta história dos futebolistas brasileiros se nacionalizarem portugueses e assim jogarem na selecção nacional. Hoje descobrimos que o Pepe também está convocado. Ui, o Scolari mal podia esperar.

Claro que todos temos o direito de pedir a nacionalidade do país que nos acolhe (e há muita gente a fazê-lo que não é atleta de alta competição nem aparece nos jornais e na tv) e que as fronteiras desta coisa são muito ténues, mas vamos lá a ser justos: nenhum destes jogadores quer ser português por achar que aqui é que está bem e pela sua dívida de gratidão para com Portugal. Querem jogar em torneios rentáveis e que são máquinas de fazer dinheiro. E como são bons jogadores, a Federação acha que sim, senhor, são grandes portugueses.

Na verdade, nada disto tem a ver com nacionalidade, por isso não vale chamar-me purista ou xenófoba. Nem me venham com a globalização. Isto é só o resultado de estes casos aparecerem na imprensa e a prova acabada de que o desporto de alta competição é uma contradição nos termos.

De que serve ganhar um campeonato do mundo se os jogadores que lá estão são brasileiros que não tinham lugar na selecção do seu país? De que serve ser o atleta mais veloz do mundo se, para aguentar a pressão, o Obikwelu é mergulhado em gelo depois de cada corrida? Para que havia de querer ser a melhor ginasta do mundo se acabo anoréctica? Quem quer ser o ciclista se tudo o que está por trás é doping?

26 agosto, 2007

Bolinha semiótica

Correndo o risco de fazer deste espaço um obituário, depois do Rui ter prestado a devida homenagem ao Lopes da Silva, mas acho que era bom deixar aqui uma linha ou duas sobre o Eduardo Prado Coelho (1944-2007).

Além de ser o "bolinha semiótica", parecia-me bem humorado e um dandyzinho. Já fazia parte ler o "Fio do Horizonte", discordar, achar que ele tinha enlouquecido e que não se percebe como pode aparar os golpes do Carrilho, ou então concordar, sorrir e achar que "sim, senhor" o EPC é que sabe.

Infelizmente, sei que posso perder pessoas mais importantes, mas vou sentir falta de que ele exista.

20 agosto, 2007

O mundo dos bebés

Lamento, mas tornei-me num espectro de moi-même: só penso em bebés, sonho com crianças, quero estar rodeada de miúdos, saber coisas deles... enfim, só penso na cria. E como acho que já faço bastante maçando o papá do meu filho, hoje calha-vos a vocês.

Por algo serão os titios mais fofos do universo
(ler com voz de "Rugrat").

António/Madalena (riscar o que não interessa dentro de seis meses) continua a crescer e a ganhar espaço. Tão pequeno e já com a mania das grandezas! Não dá pontapés (ainda!), mas já me pôs outra vez de cama. Sim, essa é outra das razões porque estou a escrever: ninguém, nem mesmo eu, aguenta tanto tempo sem fazer nada e a ver a Júlia Pinheiro. Por isso, tenho tempo para vir para aqui mandar bitaites.

E como não estou propriamente ocupada só penso nele/a: Como será? Será que me está a querer dizer alguma coisa mandando-me para a cama de 15 em 15 dias?

Vimo-lo na quinta-feira à noite. Tão giro, a nadar com os dedinhos na boca. (Não se preocupem, quando estiver cá fora não lhe vamos permitir estas badalhoquices).

Quanto a mim, e antes que se assustem, estou cada dia mais linda dentro do género chubby girl. Se fosse há uns meses atrás convidavam-me para fazer o papel do John Travolta no "Hairspray". (Raquel, don't worry, não ando a envergonhar-te a cara. As formas é que são estranhas)

Enfim,

É vida, senhores, é vida!

Os produtos transgénicos fazem mal à saúde

Deixo aqui esta foto para recordar os jovens que invadiram um campo de milho para protestar contra o milho transgénico. São a prova viva de que os organismos geneticamente transformados fazem realmente mal à saúde. Sobretudo à mental.

Hoje ouvi o nosso ministro da agricultura dizer que as pessoas que atacaram este campo de milho serão responsabilizadas. Estou a escrever isto para me lembrar do dia, pois daqui a uns tempos gostava de saber se realmente o fez.



13 agosto, 2007

... com excepção de todos os outros.

Acabei de ver mais uma daquelas notícias que nos fazem sempre questionar porque é que se continua a ver televisão: existem por aí uns senhores que acreditam que vão salvar o mundo ao atribuirem um computador a cada criança. A notícia também é acompanhada pela citação de algumas vozes críticas que defendem que primeiro é preciso resolver problemas mais graves como a fome e certas doenças, reiterando que o dinheiro investido nesta iniciativa poderia ser antes aplicado nessas prioridades.
Eu até sou grande defensora das novas tecnologias, daquelas que até acha que a Internet não deve sofrer qualquer espécie de censura, que o futuro da arte, em particular da música e do cinema, está está no digital e na proximidade entre criador e público - pela suspensão dos distribuidores como intermediários; profissionalmente estou sempre pronta a gritar: viva o cinema, morte à película - pela democratização da cultura!
Assim sendo pode parecer paradoxal que me insurja contra esta iniciativa. Quem dera a todos nós que toda a gente do mundo, não só as crianças, mas todos mesmo, pudessem disfrutar plenamente de tudo aquilo a que hoje temos acesso, em termos de novas tecnologias, no dito mundo ocidental, globalizado (ou mundializado, se preferirmos). A principal questão nesta notícia é que o projecto é apresentado como o salvador da democracia no mundo. Das duas uma, ou estes senhores acreditam piamente no que estão a fazer, e são uns ingénuos, ou se encontra aqui mais uma forma de manipulação camuflada "sob pele de cordeiro".
O que raio é a democracia de que eles falam? Os partidos políticos e a liberdade de imprensa? Ou será que queriam dizer antes democratização? - que neste ponto me parecem termos suficientemente diferentes. Cada portátil atribuido às crianças custa cerca de 150 euros, enquanto curar uma pessoa com lepra - sim, falamos de lepra no século XXI - custa 25. Qual é a democracia disto? E a fome e o trabalho infantil? O argumento de que estas crianças poderão, no futuro, conseguir melhores empregos, parece fraco consolo.
Eu, que não sou bombista, apenas uma radical moderada com dotes revolucionários humildemente limitados, espero que estas criancinhas descubram, com o que hoje estão a "aprender", uma forma de superar o pior de todos os sistemas. Aplaudirei a sua rebeldia!

08 agosto, 2007

Que força é essa? II


A dupla Photomaton & Vox tem o prazer de informar que, a pedido de várias famílias – especificamente da grande família que é o bar "Inda a noite é uma criança" – a exposição "Que força é essa", de Carlos Morganho, estará patente ao público durante mais umas semanas. Os que estiveram de férias (e todos os outros) já não têm desculpa... Apareçam!

02 agosto, 2007

Cuba (e os EUA) em Portugal

Acabei há pouco de ver a reportagem "Hasta cuando?" na RTP1, da autoria da nossa caloira Felgueira, a filha da outra da terra homónima.

Eu bem sei que há quem vá ficar melindrado com este post, mas é assim: 40 anos ou quase de ditadura (estou-me marimbando se é ditadura de esquerda ou de direita, a merda é a mesma, só muda o nome das moscas) fazem mal, fazem muito mal. Já tenho dito: não queria viver nos EUA, mas certamente também não queria viver em Cuba. De um lado há liberdade de expressão mas só há saúde e educação para quem pode pagar; do outro há educação e saúde gratuitas, mas comprar carne de vaca pode dar 15 anos de prisão e um delito de opinião pode valer... muitos mais.

Por enquanto, sinto-me bem é em Portugal: vai para 3o e tal anos que uns senhores barbudos acabaram com as licenças de porte de isqueiro e com a censura; melhor ou pior, vai havendo saúde e educação para todos, sem que seja preciso um seguro ou um empréstimo bancário pagável nos primeiros cinco anos depois de concluído o curso; posso estar no café a dizer mal do Sócrates que não vou preso por causa disso; posso ter o meu próprio negócio sem que isso faça de mim um traidor clandestino; posso sair do país quando me apetecer.

O que realmente me assusta é que Portugal está a ficar parecido com Cuba - e com os EUA também. Contraditório? Talvez não. Senão vejamos:
A. 1 milhão e 700 mil portugueses já têm um seguro de saúde. Quantos serão precisos para que o governo (este ou qualquer outro que lhe siga) venha dizer que já não é preciso termos um SNS?
B. Depois de aprovada a nova Lei da Imprensa (não conheço, mas as opiniões são unânimes em dizer que restringe a liberdade de imprensa) e de uns quantos casos de "delitos de opinião" (médicos, professores, sindicalistas, etc têm sido os visados) terem sido objecto do longo braço punitivo do governo, eis que hoje é conhecido que a Directora do Museu Nacional de Arte Antiga, anteriomente elegiada pelo seu trabalho, foi afastada do cargo, por discordar do modelo de gestão dos museus (parece-me uma mulher inteligente, deve ter proposto alguma alternativa e não se ter limitado a mandar bocas, por certo) e por não aceitar que o museu tenha de fechar as portas por falta de vigilantes.

Este governo anda com tiques. Não sei se são tiques neo-liberais se são tiques ditatoriais. Mas não gosto. Não pode Portugal continuar a ser... Portugal? Hasta cuando vamos continuar a imitar os outros - em particular naquilo que de pior têm?